segunda-feira, 21 de abril de 2008

Muita calma nessa hora

Artigo publicado no Jornal Os Batidores - Ano 2 - nº 4

Toda vez que o prefeito Carlos Augusto coloca os pés fora de casa, um séquito de seguranças lhe acompanha os passos. A cidade tem a pecha de violenta, a história recente confirma a fama e as estatísticas de cada santo mês ratificam o que todo mundo já sabe.

Como se já não bastasse o número assustador de homicídios, que coloca Rio das Ostras na frente de Belford Roxo em número de assassinatos, o município é pródigo em acontecimentos nefastos envolvendo autoridades. Antes da emancipação, assassinaram um padre de Casimiro de Abreu, antiga sede do município. Após a independência, as coisas só pioraram. Foram vítimas de matadores: um delegado, um prefeito, um ex-vereador e um vereador em pleno exercício do mandato. O ex-prefeito Sabino também experimentou a sanha de pistoleiros, mas por milagre escapou com vida de uma emboscada.

Para enfrentar o dia-a-dia de uma cidade tão tolerante com a violência, até que se entende a presença de seguranças ao lado do chefe do Executivo ou de qualquer outra autoridade que se aventure por terra tão belicosa. O Difícil de aceitar é o clima de intolerância e descontrole que culminou com o assassinato do chefe da segurança do prefeito por um colega de trabalho.

Diante do fato, a comunidade chega à conclusão de que correu perigo. Os seguranças funcionam na rua como porteiros, interpondo-se entre populares e o prefeito, avaliando se é seguro ou não autorizar o acesso a autoridade. Não sendo pessoa conhecida, para ter acesso ao prefeito é preciso primeiro passar pelo crivo da escolta.

É claro que na rua nem tudo são flores. As pessoas reclamam porque falta remédio, vaga nas escolas ou sobra água dentro de sua casa por conta das enchentes que viraram rotina, principalmente na periferia. As abordagens motivadas pela insatisfação às vezes extrapolam limites e precisam de algum tipo de freio. Tinha-se a impressão que todos os responsáveis por essa triagem eram tranqüilos e treinados. A realidade, no entanto, mostrou que entre os seguranças existia pelo menos um com potencialidade para o descontrole. Segundo os depoimentos registrados na 128ª DP, o crime teve motivação banal. Os entreveros na rua envolvendo populares e o prefeito, populares e secretários, populares e seguranças, também são banais.

O prefeito precisa tomar providências no sentido de avaliar psicologicamente todos os seus seguranças, principalmente os que portam armas. Ainda que sejam funcionários particulares, ligados diretamente ao cidadão Carlos Augusto, eles agem, por força da função, como se fossem servidores públicos.

As relações entre o prefeito e a população vão se transformar, em breve, em contatos envolvendo eleitores e candidato. É nessa hora delicada, sob o calor da disputa, que os ânimos precisam estar mais apaziguados. Rio das Ostras tem mais de 20 mil novos eleitores. Esse contingente de caras novas vai participar do processo eleitoral, exercendo sua cidadania e colocando em prática o seu jeito peculiar de se manifestar.

Chegou a hora de aprender a viver com as diferenças, enfrentar as adversidades com sensatez e dar uma chance à paz.

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