sábado, 19 de abril de 2008

Consciência Negra em debate no Ciclo de Palestras Democracia e Cidadania

Apresentações de capoeira, dança, música e poesia celebram a cultura negra
Rio das Ostras, 20 de novembro de 2007
Por Leonardo Necco


Dança, música, poesia e um debate acalorado marcaram as comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, na Casa de Democracia e Cidadania. Um grande público – estimado em mil e quinhentas pessoas, segundo os organizadores – acompanhou a palestra e as apresentações culturais no local. Para discutir o papel do negro no Brasil, além do secretário Estadual de Trabalho e Renda, Alcebíades Sabino, estiveram presentes os atores Antônio Pitanga, Cosme dos Santos e Iléa Ferraz; a escritora, Íris Gomes da Costa; a coreógrafa, Carmen Luz; o diretor de espetáculos, Ginaldo de Souza; o militante político, Sílvio Henrique da Silva; a doutora em estudos históricos e culturais africanos, Sônia Maria Santos.

Os participantes destacaram a necessidade de políticas públicas para a inclusão social e reconhecimento do negro na sociedade. “É importante lembrarmos que esta cidade foi construída pela luta, trabalho e esforço do negro”, destacou Sabino, lembrando de monumentos históricos construídos no tempo da escravidão, como o Cemitério, o Poço de Pedras e a antiga Catedral, “o maior marco do trabalho escravo em Rio das Ostras, que, infelizmente, não existe mais”. O secretário destacou que o debate é uma forma de homenagear os negros de Rio das Ostras que fizeram e fazem a história da Cidade.

De acordo com o ator Antônio Pitanga, o Dia da Consciência Negra deve servir para uma reflexão. “É uma oportunidade de revisitarmos a nossa cultura e origem. O negro foi o mestre de obras dessa civilização, trazendo seu conhecimento em geometria, aritmética e outras ciências. Não lutamos para ser diferentes. Queremos a partilha desta civilização que foi construída pela mão do negro”, destacou Pitanga.

Já o ator Cosme dos Santos ressaltou a importância de investir na educação para que os negros tenham mais oportunidades. “Temos um imenso caminho para trilhar, diminuir as diferenças, resgatar tudo que nos foi tomado. Para isso, só tem um meio: educação. Devemos ter um mutirão pela educação”, disse Cosme, arrancando aplausos do público. Sobre as cotas de universidades para estudantes negros, o ator destacou a necessidade de amplia-las. “Se investirmos 20% embaixo (no ensino fundamental), não vamos precisar de 20% em cima (na universidade). Assim teremos condições de disputar um lugar no mercado com igualdades de condições”, observou.

A atriz Iléia Ferraz lembrou que o Dia da Consciência Negra deve ser um momento de reflexão para todas as raças, idades e credos. “Por isso estou tão feliz em constatar a diversidade racial dos que estão aqui presentes. Zumbi está emanando uma energia para sonharmos.”, disse.
“Devemos desculpas ao povo negro que foi massacrado durante trezentos anos”, destacou o diretor de espetáculos, Ginaldo de Souza, um dos primeiros diretores a papéis de destaque para atores negros em peças teatrais. Ele foi o responsável pela direção do espetáculo “Oferenda”, apresentado antes do debate.

A apresentação misturava a dança da Companhia Étnica de Dança, coreografada por Carmen Luz e conhecidas poesias como “O Navio Negreiro”, de Castro Alves, “O Negrinho do Pastoreio”, de Simões Lopes Neto, e “Essa Negra Fulô”, de Jorge de Lima, interpretado por Antônio Pitanga, Cosme dos Santos e Iléa Ferraz.

“A beleza é um direito de todos. E como essa cidade é linda!”, elogiou a escritora Íris Gomes da Costa. Segundo ela, a data deve servir como um ‘dia do diagnóstico’ contra uma grave doença que é o preconceito.

Emocionado, Pitanga elogiou o número e o interesse dos presentes, comparando o auditório lotado ao quilombo mais famoso da história. “Este quilombo é de Palmares! Negros, brancos e descendentes de índios estão aqui, como era o quilombo antigo. Queremos estar na história onde merecemos, porque esse país é mais rico, bonito e generoso do mundo. Estou muito feliz de ter vindo”, disse. O ator desistiu de comparecer a uma premiação em um festival de cinema na Argentina para participar da palestra. “É natural trocar Buenos Aires por Rio das Ostras”, brincou Sabino.

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